A paisagem rural portuguesa suscita uma dissonância cognitiva. Visto de fora, pelo olhar “citadino,” o campo parece sereno, um espaço imóvel, onde o tempo se arrasta na paz do costume. Contudo, a história e a vida isolada no interior revelam algo muito diferente: uma impermanência constante, um estado de entropia elevado e, por vezes, trágico. Esse ciclo de transformação, longe de ser caótico, é o próprio mecanismo de equilíbrio, o coração de um organismo que se autorregula. Esta coexistência de visões sobre o rural não é uma raridade; é uma prova da nossa adaptabilidade, da nossa capacidade de habitar incongruências.
Fauxclore é a exploração deste conflito entre permanência e mudança na perceção (do espaço rural, da nossa memória, de nós próprios) e de como essa dualidade alimenta uma profundidade singular num ambiente em vias de desaparecer — da memória e da geografia. O projeto surge de uma inspiração enraizada no meu trabalho enquanto artista, uma busca por captar na criação algo desse espaço liminar que se dissolve.
Crescer numa aldeia ensinou-me a ouvir a música subtil do ambiente natural e a entender como esta nos molda e reflete. E a minha experiência como professor, ao longo dos anos e para diferentes idades, incutiu-me um respeito profundo pela memória dos mais velhos, num contraste inevitável com a perda gradual da memória cultural coletiva. Fauxclore é um projeto artístico que utiliza eletrónica, música acústica, gravações antigas, objetos criados e objetos por criar para explorar os lugares e emoções que me formaram e que, ainda hoje, ecoam no que sou.