A Camila é mais do que um objeto; é uma presença quase humana, fruto de uma criação profundamente pessoal, inspirada pela necessidade de comunicar a dificuldade de estabelecer e manter contacto para quem vive com timidez ou ansiedade social.
Embora na sua versão final a interação tenha sido simplificada — toca na presença de pessoas e para na sua ausência — o conceito inicial era mais complexo:
Após ser ligada, Camila iniciava a sua melodia de forma extremamente lenta. Quando alguém se aproximava a uma certa distância, parava de imediato. Porém, se voltasse a “sentir-se à vontade,” retomava a melodia a um ritmo mais acelerado e ganhava “resistência,” permitindo uma aproximação maior. Após alguns ciclos de aproximação, recuo, habituação e recomeço, era possível pegar na caixa de música e caminhar livremente pela sala, enquanto esta tocaria a sua melodia na velocidade máxima, em plena confiança.
Este projeto reflete a importância de respeitar os limites de quem é vulnerável, mas também de encorajar uma vulnerabilização gradual que permita criar laços mais profundos.
A Camila estreou-se em 2022 numa formação imersiva da Companhia de Música Teatral, em Loulé, sendo mais tarde incorporada no espetáculo Canção da Terra, de onde foi retirada a foto acima, com permissão da Companhia de Música Teatral.